Ousadia tática de Artur Jorge com um a menos garante Libertadores histórica para o Botafogo
A conquista da Libertadores pelo Botafogo, com uma vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG, é a prova viva de que os clichês sempre carregam uma pitada de verdade. Só mesmo esse time seria capaz de perder um jogador por expulsão aos 40 segundos de jogo e, ainda assim, terminar o primeiro tempo vencendo por 2 a 0. Detalhe: sem realizar nenhuma substituição.
Qualquer treinador no mundo provavelmente optaria por sacar um atacante ao perder o volante mais marcador do time, como foi o caso de Gregore. Artur Jorge escolheu ousar.
O treinador reformulou o esquema tático de maneira, no mínimo, inusitada: Marlon Freitas passou a atuar como zagueiro, formando uma linha defensiva com Barboza e Adryelson. Luiz Henrique assumiu uma função mais fixa pelo lado direito, alternando entre ataque e defesa. No meio-campo, Almada, Savarino e Igor Jesus se sacrificaram para reforçar a marcação, sem deixar de lado as escapadas em velocidade.
O ajuste mostrou profundo conhecimento sobre a forma de jogar do Atlético-MG. Funcinou assim: o Atlético atua em um 3-5-2 que, com a posse de bola, se transforma em um 3-2-5. Nesse esquema, Arana e Scarpa avançam pelas extremidades, atuando colados à linha de fundo, enquanto Deyverson, Hulk e Paulinho ocupam o centro do ataque.
É um time que aposta muito no jogo pelas laterais e usa muito pouco o meio. Alan Franco e Fausto Vera, os volantes, não costumam apoiar com frequência. “Se o Galo joga pouco pelo meio, por que manter um volante ali?”
Essa foi a pensata do treinador ao recuar Marlon Freitas para a zaga. A estratégia foi precisa: Hulk foi completamente neutralizado no primeiro tempo, enquanto os zagueiros se encarregaram de Paulinho e Deyverson. Savarino também teve um papel crucial, marcando de perto Alan Franco e dificultando sua participação no jogo.
Essa estratégia era vista tanto nos momentos que o Atletico pressionava lá na frente como na saída de Everson. Veja a imagem: Marlon Freitas marca individualmente Hulk. O trio é anulado. Os dois volantes são vigiados de perto. O Botafogo precisava segurar o 0 a 0 para seguir vivo no jogo. Com um a menos, a única chance do Botafogo no jogo era cuidar bem para que Deyverson não encontasse Paulinho.
Sem alternativas pelo centro, o Atlético ficou dependente das laterais. Sentiu o jogo e cometeu erros ao rebater mal a bola do primeiro gol e do lance que gerou o pênalti bem batido por Alex Telles.
Não foi a primeira vez que o Fogão transformou adversidade em estratégia. O 2 a 0 jogou toda a pressão para o lado do Atlético.
A entrada de Mariano pelo lado direito, como zagueiro no 3-2-5 de Milito, até fez o time melhorar. Vargas diminuiu e teve, por duas vezes, a bola do jogo. Recebeu vários cruzamentos de Hulk, que atuou na função de Scarpa no segundo tempo. Só que faltou criatividade, movimentação…faltou de tudo um pouco na final. Inclusive mudar o que não funcionava, já que Milito basicamente manteve a estrutura bem-marcada pelo Botafogo.
Inventivo ou arriscado? Histórico! O Glorioso mostrou que tem mais time, mais consistência e, convenhamos, mereceu muito esse título. Mereceu pela dor do rebaixamento em 2020, pela frustração no Brasileirão de 2023 e pelos anos de jejum que nunca afastaram sua apaixonada torcida.
Uma virada de página que começa em John Textor, que resgatou a estabilidade financeira e a qualidade no elenco. Agora, o Botafogo tem mais do que uma promessa de mudança: tem um título para coroar essa nova era. E que título! A conquista da Libertadores.