Mato Grosso do Sul, 20 de maio de 2025

“Rota Bioceânica será concluída em 2026”, afirma Simone Tebet

A mega-estrutura logística visa ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico atravessando o Brasil, Paraguai, Argentina e o Chile

A ministra do Planejamento e Orçamento (MPO), Simone Tebet, afirmou que a Rota Bioceânica de Capricórnio será concluída até maio de 2026 e poderá dobrar o comércio entre Brasil e Chile.

Ela participou ontem (dia 23), ao lado do presidente chileno Gabriel Boric, da mesa redonda “Oportunidades de Negócios e Investimentos Brasil-Chile”, realizada no auditório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília (DF).

A mega-estrutura logística visa ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico atravessando o Brasil, Paraguai, Argentina e o Chile para elevar o nível de integração entre as economias a América Latina, bem como reduzir o tempo de transporte a diversas partes do mundo, por exemplo, a China.

As obras estratégicas no lado brasileiro já estão previstas no Novo PAC e têm orçamento assegurado. A principal delas, a ponte binacional entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta (Paraguai), estará pronta até maio de 2026.

No total, serão mais de dois mil quilômetros de estradas que ligarão os portos brasileiros de Santos, Paranaguá e Itajaí aos terminais chilenos de Iquique, Mejillones e Antofagasta.

“Acredito que este seja um momento histórico. Um dia na história. Esta fotografia se fará presente como um dos inúmeros passos que estamos dando rumo a um sonho muito antigo, que talvez, há 100 anos, seria uma utopia distante”, declarou a ministra.

O evento na capital federal contou ainda com a participação do ministro da Economia chileno, Nicolás Grau, além de representantes dos setores público e privado dos dois países que tiveram a oportunidade de trocar informações e firmar parcerias.

Com aduanas integradas e logística racionalizada, disse Tebet, os custos com transporte poderão cair até dez vezes em relação ao modelo atual.

“Não há como erradicar a miséria e diminuir a pobreza sem reduzir a desigualdade regional e promover a integração sul-americana. O Brasil não pode continuar de costas para a América do Sul, e a América do Sul não pode seguir de costas para o Brasil”, disse a ministra.

Para viabilizar o lado estrangeiro da rota, o Brasil articulou US$ 10 bilhões em financiamentos junto ao BNDES, CAF, BID e Fonplata, voltados à infraestrutura rodoviária, ferroviária, portuária e aduaneira dos países vizinhos.

Prioridade chilena

O presidente chileno, Gabriel Boric, destacou a importância do corredor para reduzir prazos e ampliar a competitividade. Segundo ele, seu governo deu prioridade máxima à rota.

“Mais importante que falar sobre integração é realizar obras. Estamos muito perto de concluir todas as etapas relevantes para que esse corredor funcione plenamente”, afirmou.

O Chile, disse Boric, identificou gargalos para o funcionamento do corredor, dos quais alguns são considerados indispensáveis, como a aquisição de uma nova grua para o porto de Iquique e o início das obras do molhe de abrigo no porto de Antofagasta, que deve reduzir o tempo de inatividade de 60 para 5 dias por ano.

“Estamos muito perto de concluir todas as etapas relevantes para que esse corredor funcione plenamente”, disse. Ele mencionou que o tempo de trânsito pode cair em até 12 dias, se comparado às rotas tradicionais.

A rota também abre caminho para o uso estratégico dos tratados de livre comércio chilenos, que cobrem mais de 80% do PIB mundial. Além disso, produtos brasileiros poderão ser processados no Chile e exportados como mercadoria chilena, ganhando competitividade global.

O plano inclui ainda incentivos à agroindústria, ao turismo e à geração de empregos com base em cadeias produtivas binacionais.

Comércio Brasil-Chile

Em 2024 as exportações brasileiras somaram US$ 337 bilhões. Do total, os países que compõem a América do Sul comercializaram com o Brasil US$ 37 bilhões, 11% do total — o segundo principal destino das exportações brasileiras.

Por exemplo, o Brasil vende mais para o Chile, Paraguai, Colômbia e Uruguai do que para países como Alemanha, Portugal, Reino Unido e Rússia.

O diferencial está no perfil industrial: 85% dos produtos exportados à região têm alto valor agregado, contra apenas 2% das exportações para a China, por exemplo.

“Nós temos condições de dobrar nossas exportações e dobrar nossas importações. Isso significa carne mais barata na mesa do trabalhador chileno e salmão mais barato no prato do brasileiro. Significa integração real, econômica e social”, disse a ministra.

Rotas de integração

A integração entre Brasil e Chile pela Rota Capricórnio é uma das cinco frentes do projeto Rotas de Integração Sul-Americana, lançado em 2023 após o Consenso de Brasília.

A iniciativa já resultou na criação de uma Comissão Interministerial e na inclusão de 190 obras de infraestrutura no Novo PAC — com destaque para rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e linhas de transmissão.

Se as previsões se cumprirem, até o fim deste governo os oceanos Atlântico e Pacífico estarão ligados por uma via moderna, segura e eficiente, capaz de redesenhar o mapa do comércio sul-americano. Um projeto de Estado que, segundo Tebet, “não é apenas sobre infraestrutura, mas sobre desenvolvimento compartilhado e protagonismo regional”.

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