Mato Grosso do Sul, 11 de janeiro de 2025

Mapa avança para reconhecer boi pantaneiro como raça

Nove touros e 55 matrizes são os primeiros animais do rebanho da Embrapa Pantanal a ter registro genealógico na associação de criadores de Bovino Pantaneiro (ABCBP).

O registro é importante passo para que o Bovino Pantaneiro receba o status de raça junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária, como é o caso da Caracu, Crioulo Lageano e Curraleiro Pé-Duro.

Os animais fazem parte do rebanho do Núcleo de Conservação do Bovino Pantaneiro, do Campo Experimental da Fazenda Nhumirim, da Embrapa.

De acordo com a pesquisadora Raquel Soares Juliano, cada animal passou por uma avaliação técnica para atender aos critérios que determinam o padrão racial.

“Aproveitamos para classificar, individualmente, o escore corporal e frigorífico dos bovinos e detectar animais com características interessantes a serem mantidas nessa população: diversidade de pelagens, habilidade materna, mansidão, produção satisfatória de crias, longevidade, boa conformação para produção de carne e leite”, detalha a pesquisadora.

De acordo com ela, o trabalho ajudará no esforço de conservação da raça bovina, reconhecida como a mais adaptada às condições do Pantanal, mas que se encontra em risco de extinção.

“Esta raça tem como principal diferencial o fato de ser o taurino mais adaptado às duras condições do Pantanal. Esses animais produzem carne macia e suculenta, com bom marmoreio e leite com alto teor de gordura; os touros possuem alta libido e as vacas são muito longevas e prolíferas. Os rebanhos acompanhados pelos pesquisadores e pela ABCBP são criados tradicionalmente em sistemas extensivos, a pasto, sendo uma boa opção em empreendimentos pecuários com perfil de atendimento a nichos mercadológicos”, explica a pesquisadora.

Registro junto ao Mapa

A pesquisadora explica que um dos critérios considerados pelo Ministério no processo de reconhecimento de uma raça é o número de animais com registro genealógico feito pela associação de criadores.

“Por isso, os animais do Núcleo de Conservação da Embrapa ajudam no cumprimento desta exigência. A continuidade do monitoramento genético desse rebanho pode disponibilizar, para os criadores interessados, animais de alto valor zootécnico” esclarece Raquel Juliano.

Ela enfatiza que esse registro dá ao Bovino Pantaneiro o status de “produto”, sob a responsabilidade da ABCBP, a qual se compromete a acompanhar a genealogia e a qualidade racial dos rebanhos, garantindo maior valor zootécnico aos animais. Essa qualidade deve se estender aos produtos relacionados, incluindo sêmen e embriões, que poderão ser comercializados como material genético diferenciado, participar de exposições pecuárias, e ter benefícios fiscais como outras raças registradas.

“É o início de um novo capítulo para a raça, e seus criadores”, declara.

Experiência positiva

O criador de Bovino Pantaneiro Yorgos Salles Graça, de Porto Esperidião (MT), tem investido na ideia de ter animais compactos, com aproximadamente 350 kg, com alta eficiência reprodutiva, selecionando animais adaptados às condições do sistema produtivo do Pantanal, visando desmamar bezerros com 50% do peso da vaca, produzindo carne de qualidade.

“A experiência tem sido positiva. Atualmente possuo um rebanho base com 200 animais e venho utilizando a ultrassonografia para detectar indivíduos com melhor composição de carcaça. Os acasalamentos serão acompanhados para ter a primeira produção de Bovinos Pantaneiros em 2024”, explica Salles Graça.

O presidente da ABCBP, Thomas Horton, é um grande incentivador da raça. “Eu tenho touro robustos, bezerros que desmamam com 200 quilos”, frisa Horton ao contar que o custo de criação do Bovino Pantaneiro é menor, e que a raça é ótima escolha para uma propriedade de porte médio como a dele.

Importado da Europa

Trazido da Europa na época da colonização por portugueses e espanhóis, passou por um processo de seleção natural, resultando em uma raça extremamente adaptada às condições do Pantanal, capaz de suportar fatores pouco favoráveis em termos de clima e nutrição – mantendo altas taxas de reprodução, apesar dos extremos do bioma.

Trata-se de uma raça rústica e resiliente, que apresenta cascos resistentes a longos períodos de pastejo em áreas alagadas, mansidão, boa habilidade materna e capacidade leiteira, entre outras vantagens e diferenciais.

Atualmente, a raça está em alto risco de extinção, possui carne e leite com sabor e qualidade diferenciados, com um potencial comercial para atender a nichos de mercado.

A população estimada da raça Bovino Pantaneiro é de 1,2 mil animais, sendo que, até o momento, foram registrados cerca de 200 indivíduos.

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