Mato Grosso do Sul, 11 de janeiro de 2025

Cadeia leiteira brasileira continuará sob pressão em 2024, avalia Embrapa

A cadeia leiteira brasileira continuará sob pressão em 2024, em decorrência da conjuntura internacional e da fraca demanda interna. A avaliação é do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa (CILeite).

Com duas guerras em andamento no mundo (Rússia x Ucrânia e Israel x Palestina), desempenho fraco das grandes economias globais e juros elevados, os pesquisadores e analistas do CILeite não esboçam muito otimismo para a cadeia láctea em 2024.

“Depois de um ano difícil, 2024 ainda não será o ano da recuperação e continuaremos observando a exclusão de produtores menos eficientes e de pequenos laticínios, como tem ocorrido nos últimos anos”, salienta o analista José Luiz Bellini, que acredita que este será um ano desafiador para produtores e laticínios.

Somado à complexa conjuntura global, o recuo das importações chinesas tem mantido os preços internacionais estáveis, mas abaixo da média histórica.

Embora demonstrasse uma ligeira alta de 1,6% em relação ao evento anterior, no leilão de 05/12 da Global Dairy Trade (GDT) a média de preços das negociações foi de US$ 3.323/tonelada (valor que já esteve acima de US$ 5.000/tonelada, em março de 2022).

“Esses são dados que corroboram para a produção de leite acanhada dos maiores exportadores de lácteos”, afirma o analista.

Ambiente interno

Segundo os analistas, o ambiente interno traz notícias positivas. O crescimento do PIB em 2023 desafiou as previsões iniciais de 0,5% e superou a marca dos 3%. A inflação está controlada e o desemprego, em queda.

“No entanto, esse bom desempenho da economia ainda não repercutiu na cadeia produtiva e o consumo de lácteos continua baixo”, argumenta o pesquisador Glauco Carvalho.

A edição de dezembro da Nota de Conjuntura Econômica do CILeite aponta que a fraca demanda interna também é um dos fatores que comprometem a rentabilidade dos produtores.

“Em vários estados, pequenos produtores estão recebendo menos de R$1,80 pelo litro de leite, o que é insuficiente para remunerar a produção”, avalia Carvalho.

Desde julho do ano passado, a relação de troca do produtor (Índice de Preços Recebidos IPR/Índice de Preços Pagos – IPP) é menor que a média dos últimos sete anos.

A consequência da baixa rentabilidade dos produtores é o desestimulo à produção. Já há alguns anos, o volume de leite produzido no Brasil está estagnado em 34 bilhões de litros anuais.

Volume de importações

Um fator que também contribuiu para descapitalizar o produtor foi o grande volume de importações ocorridas no ano passado, principalmente no período da entressafra, quando o preço do leite ao produtor fica mais atrativo.

“A queda da produção na entressafra foi suprida pelas importações, aumentando a oferta de leite no mercado”, diz Bellini.

O analista informa que até setembro do ano passado o volume de leite produzido pelo Brasil cresceu 1,4% em relação ao mesmo período de 2022 e a oferta de leite per capita subiu 5,3% por conta das importações, que superaram dois bilhões de litros de leite equivalente ao longo do ano.

“Mesmo com a desvalorização do leite nacional, as importações se mantiveram motivadas pela grande competitividade externa”, diz Carvalho.

Na muçarela, por exemplo, a diferença de preços praticados no Brasil e nos países exportadores chegou 45,8% e no leite em pó integral, 31,5%.

Argentina e Uruguai, os principais países exportadores de leite para o Brasil possui preços historicamente mais competitivos devido a uma eficiência média no setor superior à realidade brasileira.

Enquanto o preço médio do litro de leite no Brasil está a 39 centavos de dólar, o leite argentino custa 35 centavos de dólar e o uruguaio, 36.

Pressão

O CILeite aponta que a pressão das importações fez com que os principais derivados lácteos no mercado atacadista nacional registrassem desvalorização de preços ao longo do ano. No leite UHT, as cotações caíram 18,6% de maio a novembro chegando a R3,76/litro. Na muçarela a queda foi de 15,6%, chegando a R$26,88, no mesmo período.

“Não é só no campo; nas indústrias, as margens também foram ruins, com diversos laticínios contabilizando prejuízo no ano que se inicia”, afirma Carvalho.

O que fazer?

Perguntado aos pesquisadores e analistas do CILeite o que produtores e laticínios devem fazer para enfrentar um ano que se anuncia difícil, eles sugeriram criatividade e diversificação.

A produção de leite artesanal, por exemplo, está em ascensão e pode ser uma saída para muitos produtores. O Analista Lorildo Stock, por sua vez, disse que o produtor precisa se especializar.

“A atividade leiteira é complexa e permite fragmentar a produção em setores como volumosos, recria de animais e leite. Pode ser que o pecuarista tenha maior vocação em alguma dessas áreas e ao se especializar, otimiza a produção”.

Quanto à indústria, a pesquisadora Kennya Siqueira diz que os laticínios devem diversificar seus produtos de acordo com a tendência do consumo, que aponta para alimentos saudáveis, funcionais e sustentáveis.

Medidas para diminuir importação e capitalizar produtor

No fim do ano passado, o Governo Federal anunciou duas medidas para incentivar a atividade.

Neste mês, entrou em vigor o decreto 11.732/2023, de 18 de outubro de 2023. O decreto visa estimular a venda de leite in natura, alterando a aplicação dos créditos presumidos de PIS/Pasep e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) no âmbito do Programa Mais Leite Saudável.

Pelo decreto, laticínios ou cooperativas que comprarem leite no Brasil poderão ser beneficiadas com até 50% de créditos presumidos. Para isso, é preciso estarem cadastradas no Programa Mais Leite Saudável. Aqueles que não forem cadastrados podem ter direito a 20% do benefício fiscal.

A expectativa é de que essas mudanças aqueçam a produção de leite, desenvolvendo a cadeia produtiva nacional, gerando mais renda para o produtor.

Carvalho argumenta que a medida deve ter um efeito limitado, já que grande parte das importações não são realizadas por laticínios, mas por traders, indústria de chocolates e varejistas.

Por outro lado, uma contínua recuperação dos preços internacionais poderia contribuir para menor importação e recuperação dos preços ao produtor. Mas o pesquisador destaca que o fraco consumo é um limite para as pressões altistas, sendo necessários investimentos em inovação e comunicação que estimulem a demanda.

Outra medida, publicada no dia 21 de dezembro, visa financiar o capital de giro dos produtores. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou uma linha de crédito especial com subvenção federal específica para cooperativas de produtores de leite, com repasse de mais de R$ 700 milhões.

Fonte: Agrofy

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